quarta-feira, 24 de março de 2010

Escadote Emocional

Há muitos muitos anos, andei a vasculhar pelos livros dos meus pais, uma colecção azul, bordada a dourado, que me ajudou a descobrir alguns autores portugueses. E que coisas boas encontrei. Li e reli o livro da Florbela Espanca, achava a escrita dela qualquer coisa de absorvente e durante muito tempo, tinha-o à minha cabeceira, só para reler alguns dos poemas que tinha marcado. Que me tinham marcado. Não era pela dor que ela transmitia, nem pelo meu estado de espírito que os lia, mas sim pela beleza que ela conseguia transmitir, apesar do seu constante sofrimento.
Hoje deu-me vontade de reler alguns deles, talvez por me encontrar uns degraus abaixo do normal. Vou partilhar um convosco, só porque sim:

Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah!  Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

1 comentário:

Child of the '90s disse...

A Florbela é só ESPECTACULAR!!!

Adorei!